No contexto em que estamos hoje, sabemos que um dos primeiros passos para prevenir a disseminação do coronavírus COVID-19 é ficar em casa e evitar ao máximo o contato físico com outras pessoas - não só por você, mas por aqueles que estão mais vulneráveis nesse momento, como as pessoas idosas e com problemas respiratórios. Com isso, a recomendação é que as pessoas fiquem a maior parte do tempo em quarentena, fazendo home office. Desta forma, entendemos a importância de abrirmos um espaço para falar dos aspectos psicológicos que permeiam esta situação, assim como algumas implicações específicas para algumas categorias profissionais.
O medo e a ansiedade são sensações naturais do ser humano. São sentimentos protetivos que nos auxiliam na avaliação e na reação frente a situações de perigo, como quando saímos à noite em uma rua escura e ficamos em estado de alerta, avaliando qualquer alteração no ambiente. Ou seja, existem níveis de ansiedade que não se dão de forma patológica, mas como uma resposta saudável.
É normal que você se preocupe, tenha medo. Porém, quando não compartilhamos estes sentimentos, guardando para si, ou quando eles tomam conta dos nossos pensamentos, eles nos paralisam, atrapalhando para que situações possam ser enfrentadas, vindo a nos adoecer psiquicamente, gerando casos graves de ansiedade ou paranóia. Isto pode se dar em um nível individual ou coletivo.
Por isso, é importante que você mantenha o contato com pessoas de confiança e dê seguimento ao seu tratamento psicológico, não se isole! Nós, psicólogas do projeto Cuidando de quem cuida, apesar de reconhecermos ser um momento imprevisível, em que o que cada um faz individualmente não impede que a situação se agrave, juntamos algumas dicas embasadas em materiais encontrados e em nossa experiência, que podem auxiliar as pessoas nesse momento de pandemia, a reduzir os danos que estamos vivendo.
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INFORMAÇÕES: Não se exponha a excesso de informações. Se ficamos expostos a notícias constantemente, aumentamos nossa sensação de incertezas e preocupações, gerando ansiedade. Reserve um momento do dia para se informar, a partir de uma fonte confiável, cuidando com as fake news.
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CORPO: Nosso corpo está habituado a se movimentar, o que ajuda a diminuir a ansiedade, fazendo diferença em nossa saúde física e mental. Se movimente, seja fazendo exercícios em casa ou fazendo atividades que envolvam movimento (alongamento, limpar a casa, dançar, cozinhar, etc.).
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LAZER: É importante termos momentos de distração e entretenimento. Aproveita para fazer coisas que gosta (ler um livro, ouvir música, assistir séries ou filmes).
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ROTINA: Mantenha a sua rotina, considerando que tem a possibilidade de realizá-la com maior calma. Faça tudo aquilo que você costuma fazer normalmente (escove os dentes, tire o pijama, coloque despertador para realizar as refeições nos mesmos horários, tenha momentos de lazer e trabalho).
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TEMPO: Aproveite para colocar as coisas em ordem. Arrume o armário, arquivos e fotos do computador. Aproveite para investir um tempo maior para se alimentar, para fazer coisas que sempre desejou ter mais tempo para fazer. Faça coisas que possam ocupar e relaxar a mente.
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LIMPEZA: Manter o ambiente limpo e arrumado para você não sentir que perdeu o controle da situação, além de ter uma sensação de tranquilidade. A organização externa pode ajudar para nos sentirmos organizados internamente.
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PEÇA AJUDA SE PRECISAR: Se estiver se sentindo extremamente sobrecarregado, ansioso, depressivo ou pensando em se machucar ou em suicídio, entre contato para marcar seu atendimento online com Elisa Consiglio (51 993055886) ou Ana Carolina Tittoni (51 997277369)*.
*Atendimentos individuais fazem parte do projeto em conjunto com a Associação do Servidores do HPS. Para maiores informações, entre em contato.
E OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE?
Sabemos que a realidade de quarentena não é possível para diversas categorias, como profissionais da limpeza, da assistência social e da saúde. As mulheres são a maioria na saúde. E são a linha de frente em um momento de crise social que se aprofunda nos serviços de saúde, assistência e educação. Convivemos diariamente com a precarização, terceirização, diminuição dos serviços públicos, intensificação e a sobrecarga de trabalho.
Nesse momento de avanço dos casos de Coronavírus no país, esse cenário se aprofunda rapidamente.
Isso porque estamos falando de serviços que já sofrem com o sucateamento e com a falta de recursos e estruturas adequadas. Estamos falando de profissionais que já estão sobrecarregadas diariamente na luta contra diversas outras endemias que afetam nossa população. A crise do Coronavírus agrava isso e reflete na vida de todas – tanto na assistência oferecida à população quanto na vida das trabalhadoras, nas suas condições objetivas e subjetivas. Consequentemente, também somos as mais expostas aos riscos.
Por isso, o momento é de solidariedade! E de luta por condições dignas e seguras de trabalho, liberação de recursos, ampliação de equipes e garantia de equipamentos de proteção adequados.
Precisamos inverter a lógica do individualismo para valores de partilha, solidariedade e igualdade, princípios que estão nas estruturas do SUS, mas que hoje se materializam cada vez menos na realidade. Ainda, além de romper com esta lógica, precisamos ter um olhar sensível para estas categorias profissionais, reconhecendo o difícil trabalho que eles estão realizando, compreendendo os estressores que estão atravessando seu dia a dia, para assim, cuidar de quem cuida.
Referências bibliográficas:
ELENA SAN. Puentes Digitales, 2020. Conselhos Psicológicos para quarentena dentro de casa. Disponível em https://puentesdigitales.com/2020/03/15/consejos-psicologicos-para-largos-periodos-dentro-de-casa/ Acesso em 20 de março de 2020.
INSTITUTO VITTA ALERE. Vita Alegre, 2020. Como proteger a sua saúde mental em tempos de coronavírus. Disponível em https://vitaalere.com.br/como-proteger-sua-saude-mental-em-tempos-de-coronavirus/ Acesso em 20 de março de 2020.
MARCOS WAGNER. Ibirapuera, 2020. Desconforto emocional em períodos de isolamento. Disponível em https://www.ibirapuera.br/wp-content/uploads/2020/03/em-tempos-de-confinamento-2020.pdf Acesso em 20 de março de 2020.
Texto escrito pelas psicólogas do projeto “Cuidando de quem Cuida” com colaboração do Núcleo Saúde do coletivo Alicerce:
Elisa Consiglio CRP 07/29416 | Priscila Cardoso CRP 07/30986